Perfeiçao que vicia!

Às vezes, o excesso de elegância embota o espírito. São tantas grifes, colares, brincos, óculos escuros, esmalte, batom, lápis, delineador, sem falar dos cílios postiços, que a gente não consegue enxergar a pessoa. Fico me perguntando se ela própria ainda se lembra quem é. Será que se sente frágil e insegura pelada quando está tomando banho? Chora no chuveiro por se sentir vazia despida das marcas que a rotulam como chique? Será que faz sexo? E se faz, consegue gozar?

Esses dias ouvi de uma comediante que ela optou por essa profissão porque não era bela como a irmã. Era divertida. Parece que uma coisa exclue a outra uma vez que ser bela pressupõe uma "pose", uma postura. Já a divertida pressupõe espontaneidade, um quê de desajeitada, estabanada, desengonçada -- o que definitivamente não cabe na mulher tradicionalmente considerada "bela".

O namorado da comediante disse que gostou dela justamente pelo seu jeito autêntico, que foge aos padrões das outras mulheres. Ele afirmou conseguir ser ele mesmo ao lado dela, e dar muitas risadas. Afinal, o amor é feito disso. Pose só serve para a hora da paquera, ainda assim, fica tudo no zero a zero, porque cada um -- ele e ela --parecem muito satisfeitos sem se mover para não estragar a maquiagem e o cabelo. Sentem prazer em serem olhados. Interação é coisa para gente comum. Algo do gênero "eu tô linda e loira aqui, confortavelmente dentro do meu vestido chanel, com as pernas cruzadas, um leve biquinho nos lábios e um olhar lânguido. Do not disturb!!!".